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2022: entre a cruz e a espada

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Se procurarmos pela origem da expressão "entre a cruz e a espada" veremos que, além de muito antiga, não há um consenso sobre o que realmente ela significaria em sua origem. Já no sempre útil Dicionário Houaiss, podemos encontrar que a expressão tem que ver com estar entre a cruz e a água benta, entre a cruz e a caldeirinha ou entre a espada e a parede. A expressão deve ter chegado ao Brasil nos baús dos colonizadores portugueses que já a utilizaram em torno de 1500 para dizer do dilema dos judeus de ter de escolher entre a conversão ou a morte.

Situação semelhante a dos povos indígenas brasileiros tendo que se haver entre os padres da Companhia de Jesus com seus crucifixos e os militares da Coroa portuguesa e suas espadas. Séculos depois estamos correndo o sério risco de ficar novamente entre a cruz e a espada em 2022. Refiro-me ao dilema de termos de escolher entre dois candidatos de posições políticas extremamente antagônicas, pelo menos no discurso.

Mas, como dizia um velho camarada comunista: "na política não interessa o fato, mas, sim, a versão". Vale dizer que não estamos sozinhos nessa situação de ter de escolher entre um candidato de extrema esquerda e outro de extrema direita - isso se esquerda e direita ainda tem algum significado no mundo real da política. Recentemente na eleição para presidente do vizinho Peru os(as) eleitores(as) ficaram nessa condição: entre a cruz e a espada.

Tiveram que optar por uma das duas candidaturas representadas pelo que de mais bizarro a política da América Latina já produziu. Pela esquerda Pedro Castillo e pela extrema direita Keiko Fujimore. A galeria de presidentes eleitos democraticamente e que se transformaram em governos autoritários latino-americanos é de fazer corar de inveja os grandes ditadores da história da humanidade. Sem falar nos populistas que fizeram carreira nesse continente onde a democracia é tão maltratada. Só para ficar no Brasil e nos populistas mais conhecidos e explícitos podemos citar: Getúlio Vargas, Jânio Quadros e Luis Inácio Lula da Silva. Esse último talvez o menos assumido, mas sua vertente populista fica explícita se fizermos uma checagem de suas manifestações em nome do povo; do seu desprezo pelo parlamento - no qual segundo ele habitava um bando de picaretas -; pela imprensa livre que tentou de todas as formas desqualificar ou controlar. No governo do presidente Lula foi produzido um projeto para, "orientar, disciplinar e fiscalizar" a profissão de jornalista no país.

Seria o Conselho Federal de Jornalismo (CFJ). O Conselho seria responsável por "zelar pela fiel observância dos princípios de ética e disciplina da classe" e "colaborar com o aperfeiçoamento dos cursos de jornalismo e comunicação social". Teria abrangência nacional. O candidato Lula não fazia nenhuma cerimônia em se colocar como o único representante legítimo do povo. Aquele que reunia todas as condições de ser a verdadeira liderança popular, afinal, tinha origem na classe trabalhadora. Essa era a credencial que brandia contra os adversários que representavam a burguesia e a velha política.

Esse discurso tinha duas grandes vantagens: unia em torno de si os partidos de esquerda e caía como luva nas massas populares. Some-se a isso, Lula é um grande orador. Um político capaz de reunir todas as qualidades para ter-se um líder populista quase perfeito. Como na eleição peruana poderemos estar, em 2022, frente ao desafio de ter de escolher entre dois líderes populistas.

O ex-presidente Lula e o atual presidente Bolsonaro. Há que construir uma alternativa para colocar entre a cruz e a espada, ou, nos restará escolher entre o atraso de esquerda e o atraso de extrema direita com um pé no fascismo. A democracia e o Brasil não merecem isso.

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